domingo, 27 de julho de 2014

HELENO



Por Diego Betioli

 Como fanático por futebol, a história de grandes jogadores do passado sempre me fascinou. O futebol era mais romantizado, e é neste espaço que figuras como Heleno de Freitas ficariam marcadas para sempre na história. Já tinha ouvido sobre Heleno antes mesmo do filme ser lançado, mas não conhecia muito a respeito. Lendo sua história em um blog esportivo esses dias, fiquei instigado e lembrei-me do filme. Sabia que precisava assisti-lo. Logo!

  Heleno de Freitas foi um dos maiores jogadores da história do Botafogo e da Seleção Brasileira. Marcou 209 gols em 235 jogos pelo clube carioca, e foi campeão da Copa Roca pelo Brasil em 1945 e artilheiro da Copa América do mesmo ano. Tão genial quanto tempestivo, o nome de Heleno ficou marcado pela artilharia nata e pela vida boêmia que levava. Era mulherengo, temperamental e egocêntrico, o que lhe fez colecionar diversos desafetos dentro e também fora das quatro linhas. Casou-se com Ilma, com quem teve um filho - Luiz Eduardo - e foi acometido por sífilis, que o levou à loucura e posteriormente à morte, aos 39 anos de idade. Foi o primeiro jogador brasileiro a receber salários a nível de estrela de cinema. E, de fato, Heleno viveu como uma.



  Dirigido por José Henrique Fonseca, uma das grandes sacadas do filme é sua maravilhosa fotografia. A obra é toda rodada em P & B, o que consegue transmitir de forma natural e satisfatória a ambientação nos anos 40 e 50, e que dá a saga de Heleno o ar de luxúria e boêmia cinquentista que sua vida teve,  e que também torna denso e depressivo a sua passagem pelo sanatório em Barbacena. O filme, aliás, é narrado entre transições do auge de sua carreira, entre os anos 40 e 50, e seus últimos anos em decadência mental e física no fim dos anos 50.
  Quem encarna o Príncipe Maldito é Rodrigo Santoro, que, diga-se de passagem, o faz com maestria. Santoro é um daqueles atores que conseguem de fato captar a essência do que deve representar - no caso, de quem - e não à toa é um dos maiores nomes do cinema brasileiros já há tempos. Sua encarnação do galã debochado e o temperamento explosivo e arredio é mais do que convincente - o folclórico Heleno está presente em cada grito e cantada despejada por Santoro no filme. Fatores marcantes como a frustração de Heleno em nunca ter disputado uma Copa do Mundo, sua paixão pelo Botafogo, o vício em éter e lança-perfume e a violenta auto-cobrança que exercia - exigindo nunca menos do que o máximo de si - são representados em essência pelo ator.




  Na que considero a melhor cena do filme, Heleno demonstra sua paixão pelo Botafogo de maneira ensandecida, resgatando a imagem do jogador de futebol heroico - aquele que jogava pelo clube e pela torcida. Mesmo sendo o mais caro do elenco, Heleno discursa que o jogador deve jogar pela camisa e pela vitória, e que só por ela deveria receber. Ele não precisava daquele dinheiro - já tinha conquistado fama e glória suficientes - mas queria ser campeão pelo Botafogo. Queria jogar uma Copa do Mundo. Mas não conseguiu.
  Como toda obra biográfica, alguns detalhes ficam em segundo plano ou mesmo acabam não sendo contados. Sua passagem pelo Santos não foi retratada, assim como pelo Junior de Barranquila, da Colômbia (a única coisa exibida sobre este período é a relação com prostitutas colombianas). A única partida que disputou no Maracanã, pelo América, é contada bem por cima - Heleno foi expulso ainda no primeiro tempo e esta foi sua última partida como profissional, o que já poderia dar o gancho para sua internação no sanatório. A relação com a mãe, com a qual Heleno é mostrado em conversas por telefone algumas vezes, é pouco aprofundada. No entanto, nenhum destes fatores se torna comprometedor em qualquer aspecto na narrativa da trajetória do craque.
  Seu casamento com Ilma, que no filme se chama Silvia e é interpretada por Alinne Moraes (Ah, Alinne Moraes!...) recebe mais atenção no período anterior ao nascimento do filho, mas se torna fator crucial na queda do astro quando volta da Argentina e vê que ela, assim como seu filho, não farão mais parte de sua vida. Heleno percebe que sempre será, assim como é conhecido o Botafogo, uma Estrela Solitária, em virtude de sua genialidade e a forma de viver no limite, como alguém que não é capaz de abandonar suas convicções e que tem coragem para falar o que vem à mente - um comportamento que acaba sempre por afastar as pessoas.
  Outros personagens de destaque na trama são Alberto (Erom Cordeiro), capitão do Botafogo e melhor amigo de Heleno, a cantora portenha Diamantina (Angie Cepeda), com quem o botafoguense tem um caso, e o presidente do clube, Carlito Rocha, vivido pelo lendário Othon Bastos. Há algumas participações especiais, como um locutor vivido por Gregório Duvivier.




  Heleno não é um filme sobre o futebol em si, mas sobre a ascensão e queda de um homem motivado pela paixão irrefreável por viver e pelo que fazia de melhor. Uma história que vale muito a pena de ser conhecida, e que, no final, nos deixa com uma leve vontade de torcer pelo Botafogo e de, quem sabe, viver um pouco mais intensamente.

Excelente!

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